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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Cotidiano Selvagem: A conquista do ônibus

Imagine a cidade como uma selva e você como o predador... sua presa? O ônibus... você tem que ser rápido, esperto e eficaz para dominá-lo. Sua primeira batalha: entrar no ônibus (depois de correr 10 quarteirões para pegá-lo), depois vem a obtenção do lugar (que se não for sentado que seja pelo menos em algum estratégico onde você seja menos perturbado) e por fim (dependendo do horário) vem a luta para desembarcar no ponto certo e com todas as partes do corpo no lugar (inclusive a dignidade).


Acho que está pra nascer coisa que ensina mais do que o hábito de depender do transporte público. Com ele se aprende inúmeras coisas distintas, como o valor do suor (correr pra pegar o ônibus); lidar com a decepção (perder seu ônibus por 10 segundos de atraso – que nem foi culpa sua); o valor do imprevisto (conseguir um lugar as 7h da manhã); a tolerância (gente que dorme no seu ombro ou aquela tia que acham que é sua amiga e desaba a vida); a importância da higiene pessoal (esse nem precisa nem explicar, néh); a paciência (com linhas que não cumprem horário e pessoas mal educadas) e por aí vai... 


Quem pega ‘coletivo’ todo dia sabe que existe uma norma de conduta não impressa ou assinada, mas que você concorda com os termos sem pestanejar no momento que cogita sair em caça ao seu transporte. Por exemplo: é absolutamente normal proteger o usuário do seu possível-futuro lugar - você cerca com os braços sua área de interesse, olha e rosna para qualquer um que tentar roubar mesmo meio milésimo do seu espaço e impede que outras pessoas (ou coisas) caiam em cima do ‘guardador’ do seu assento (leva todas as pancadas em prol do bem maior...) e com um pouquinho de sorte espera que aquela pessoa (que até então esquentou o lugar pra você) desça antes de você. Aí é a hora de bater no peito e gritar:

Pode gritar cara, você merece!

Outra coisa que só o transporte coletivo oferece em doses cavalares é o tempo para observar pessoas e hábitos dos mais diversos (tá... ajuda a passar o tempo também). Ao mesmo tempo que temos quem mereça o seu assento, tem aqueles que merecem ser jogados pela janela. De todo tipo de gente (a brega, o funkeiro, a tia das latinhas, a mãe com bebê chorão, o menino doente que vomita o ônibus todo, os estudantes com suas imensas mochilas de camping, o tio do jornal que te ajuda a ficar informado, as miguxas que te deixam por dentro do babado etc.) nada me impressiona e irrita mais que aquele ser estranho sem noção, que foge de toda lógica ou senso (aposto que você lembrou de algo ou alguém!). E aí cada um vai ter um exemplo mais bizarro que outro: teve quem tentasse me ensinar latim no ônibus, ou o cara que jurou ser amigo pessoal do Aécio Neves em um ônibus vermelhão indo pra Cidade Industrial (Contagem - das abóboras)...

Mas pior mesmo é zé que tenta dar uma de João-sem-braço (jogando suas tralhas na cara do homem de sorte que está sentado na sua frente) na tentativa por sensibilizar o companheiro e aliviar o peso desse tanto de trem (que coloca a prova o bom equilíbrio de qualquer bom cidadão). Mas quem é velho de praça sabe bem que não existe isso de ter "dó" (ô dó do cê), é sangue no olho cumpadi! Animais usuários de transporte coletivo estão no topo da carnificina, mas de vez enquanto (bem de vez em nunca) alguns espécimes tem um súbito acesso de bondade.


Mas o que mata mesmo é quando o meliante (e aqui entende-se Zé-sem-noção) que abusa de má fé ao tentar se aproveitar dos demais passageiros. Como o homem que vê uma mulher sentada, e como se não bastasse ficar de tocaia esperando o lugar dela, se joga, quase deslocando o quadril, na tentativa de uma estranha ilusão de sexo oral embrulhado pra presente. E isso é revoltante, parece que o bom senso desse ser já o abandonou (ou por falta de uso ou por vergonha de pertencer a um animal assim). O mesmo vale para marmanjo que passa relando tudo o que pode - aonde consegue alcançar, nos demais passageiros. E aí eu já ouvi todo tipo de desabafo.

No caso mais extremo, uma mulher indo para o trabalho ao descer notou a roupa manchada, adivinha de que! Pois é... imagine a humilhação e desespero dessa pessoa. Que se sentindo violada só conseguiu voltar pra casa.

Nós mulheres evitamos a todo custo encostar peitos, quadril em quem quer seja (acredite: mesmo as periguetes! O.o), mais que por respeito próprio, por respeito coletivo – ao próximo (já com nossas bolsas podemos arrancar braços, pernas e rostos sem pestanejar – É sangue no olho!!). Claro que há casos onde não há como evitar o contato físico, afinal quando se está em uma lata de sardinha o jeito é se apertar.

Tenho respeito por aqueles homens de caráter que quase quebram a coluna ao passar evitando contato com a mulher que está no corredor, independentemente do tamanho do seu manequim (e aqui lê-se peitão e bundão). 

Quem nunca?

E deixo também meus singelos desejos: para o tarado - uma cotuvelada certeira no alvo certo; para o educado - um sorriso simpático; para a tia tagarela - discernimento para escolher as vítimas certas; para o estudante mochileiro - mais ‘de nada’ após oferecer suas desculpas; para o cara com o jornal de 25 centavos - pergunte se pode antes de virar a página; para o trocador - ‘bom dia’ e dinheiro trocado e para o seu Motô - A gente não é porco não!!

Pra quem tem desejo de vingança para os tarados o CQC ajuda: 


--- Tem uma história cômica ou inusitada de sua sobrevivência na conquista do coletivo? Conte-me!

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